quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Maria João Gonçalves: a fotografia e a exploração do «eu» íntimo


Maria João Gonçalves, Shine on me: 19 // 52 Weeks, 2015.


52 Weeks é o título de um projeto de Maria João Gonçalves que consiste em tirar um autorretrato por semana. Trata-se de um trabalho inspirado no blogue Gente Sentada, de Marta Filipa Costa, e nasceu do desejo da autora de explorar o autorretrato fotográfico e de se desafiar a si própria de uma forma criativa. Este projeto em curso vai já na sua vigésima nona semana, sendo articulado com outros trabalhos fotográficos sempre numa relação muito íntima com a vida quotidiana da autora.


Maria João Gonçalves nasceu em Braga há 25 anos, cidade onde vive, estudou e trabalha. Licenciada em Estudos Culturais pela Universidade do Minho, leciona História e Escrita Criativa a seniores. A fotografia ocupa um lugar muito importante na sua vida, pois tanto lhe permite ter um olhar sobre os momentos vividos como é um elemento fundamental no planeamento e desenvolvimento da sua atividade criativa. Comprou a sua primeira DSLR aos 19 anos e desde então nunca mais abandonou a fotografia. Autora de um blogue, mildiasdechuva, e muito ativa nas redes sociais ou nas plataformas de divulgação de novos projetos criativos, é por lá que encontramos a fotografia, lado a lado com a escrita, ambas semeando significados. Porquanto o projeto 52 Weeks seja totalmente conduzido em digital, a fotografia analógica também está muito presente na sua prática criativa, principalmente nas fotografias de viagens e dos lugares que visita. Um hibridismo de meios, técnicas e géneros, entre o visual e o textual, designa a sua produção cultural, ao mesmo tempo que a fotografia, em particular o autorretrato, lhe permite explorar o seu «eu» íntimo, os seus gostos, o seu estado de espírito ou o seu corpo, na sua cidade ou no seu espaço pessoal.

F. J.



domingo, 17 de janeiro de 2016

Susana Quevedo: a fotografia como exploração de um lado mais íntimo e pessoal do quotidiano 



Susana Quevedo, Self-Portrait in a Mirror, 2015.


Hoje partilhamos o trabalho de Susana Quevedo, uma jovem artista plástica operando a partir de Caldas da Rainha, onde nasceu e estudou. O seu trabalho centra-se principalmente na fotografia, na pintura e no desenho, meios a partir dos quais explora os conceitos de tempo, memória, identidade, autorrepresentação, atmosfera, ausência e presença (Cargo Collective). No texto que redigiu para esta publicação, a artista fala-nos do seu envolvimento com o fotográfico, das suas inquietações em termos criativos e como é que a fotografia, geralmente monocromática, como a sua pintura e o desenho, é usada para explorar um lado mais íntimo e pessoal do quotidiano, tomando o corpo (o autorretrato) como elemento de mediação.

«Susana Quevedo, 23 anos. Licenciei-me em Artes Plásticas, em 2015, pela Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha, cidade onde resido. Trabalhei quase sempre nas áreas da pintura e do desenho durante o curso, mas a fotografia esteve sempre presente e sempre foi importante. A fotografia, a digital principalmente, era e é o meio mais imediato de obter imagens, de encontrar uma forma de expressão rápida. E isso sempre me interessou e fez sentido quase por uma questão de necessidade obsessiva de fazer, de produzir, de criar. (Por oposição ao desenho e à pintura, ambos processos mais demorados.)

Entendo a fotografia como uma forma de explorar a minha relação comigo, com as coisas e com o mundo. Creio que o que me leva a fotografar acaba por ser o mesmo que me leva a pintar ou a desenhar: essa necessidade de fazer que acima referi. A fotografia é talvez o meio mais rápido de apaziguar essa inquietação.

Para já, o trabalho desenvolvido no âmbito da fotografia é, na sua maioria, digital. Embora já tenha feito algumas experiências com fotografia analógica e instantânea, preciso de explorar mais estas duas vertentes da fotografia.

Mais concretamente, as minhas fotografias estão relacionadas com questões como a memória, a minha relação com os lugares (uma relação emocional talvez) e com uma certa nostalgia. Também há algo nelas que se relaciona com o efémero, com o fragmento e com a corrosão provocada pela passagem do tempo (ou como tudo é breve). Os lugares que fotografo funcionam, muitas vezes, como um reflexo daquilo que sinto. Costumo dizer que as minhas fotografias andam em torno desta ideia: eu e os lugares, os lugares e eu. O monocromático é uma característica transversal a todas as áreas que exploro – a fotografia, a pintura e o desenho. E em todas estas áreas, desenvolvo trabalhos que, de alguma forma, se relacionam entre si.

O autorretrato sempre foi uma característica fundamental nas minhas fotografias. Creio que foi o ponto de partida para muito do trabalho fotográfico que desenvolvi até hoje, foi o que me levou a explorar a área da fotografia continuamente. Sempre me fez sentido retratar-me: como forma de expressão pessoal e íntima e, simultaneamente,  como tentativa de retratar a condição solitária e impermanente do ser humano. Em suma, o autorretrato serve para explorar um lado mais íntimo e pessoal do quotidiano, o vazio e uma certa noção de solidão. Talvez por isso, também me faça sentido fotografar os espaços vazios, abandonados, isolados, degradados – funcionam como reflexo da própria condição humana.» 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

João Taveira, fotografia e arquitetura


João Taveira, Sede EDP, Cais do Sodré, Lisboa, 2015.

Esta semana, o nosso blogue apresenta o trabalho de João Taveira (n. 1996) em torno da interpretação do espaço arquitetónico e urbano. O João começou a fotografar com 16 anos com uma Minolta analógica, o que o levou sobretudo à fotografia de rua. Depois entrou no curso de Arquitetura e começou a interessar-se por fotografia de arquitetura e a entusiasmar-se pela possibilidade de ligar os dois mundos. 

Fotografia e arquitetura encontram-se assim intimamente relacionadas no seu modo de entender e construir o mundo. Viagens exploratórias regulares a obras emblemáticas da nova arquitetura portuguesa ditaram um modo de abordagem fotográfica que se foca não só nos edifícios em si, na sua monumentalidade e pormenores, mas também no ambiente e nas vivências que essa mesma arquitetura consegue criar e assim adquirir um sentido pleno. 

A fotografia que partilhamos aqui e as que acompanham a divulgação deste trabalho no Tumblr e no Instagram da Fotografia Jovem Portuguesa procuram documentar, entre muitas, o empenho do João Taveira em captar o caráter peculiar da arquitetura moderna e das suas vivências (ver o Flickr e o Instagram do autor), uma via que pretende seguir embora reconheça que este tema não vai muito de encontro ao trajeto que os jovens portugueses tendem a perseguir. No entanto, sabe que o caminho faz-se caminhando e a singularidade é a via!

F. J.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Bruno Silva, a fotografia e a construção das memórias de infância


Bruno Silva, Sem título. Da Série «1995», 2015.

Bruno Silva é um jovem fotógrafo do Porto que se mostra particularmente comprometido com a rua, os sem-abrigo e os bairros sociais problemáticos da periferia urbana do Porto, situações a que procura dar visibilidade, como o bairro de São João de Deus (no Público). Por força dos temas e por opção pessoal, as suas fotografias são maioritariamente feitas a preto e branco, de noite, nas horas imediatamente antes do nascer do sol ou sob os nevoeiros cerrados da cidade do Porto. Quase sempre em película e quase sempre levada aos limites em termos de exposição e revelação, de modo a acentuar o contraste e a intensificar o grão sob influência dos grandes mestres que o guiam, como Daido Moriyama, Paulo Nozolino ou Trent Parke.

O trabalho que agora apresentamos, 1995, é o primeiro de um «tríptico da memória», de três séries fotográficas que o autor quer explorar a partir de diferentes locais com diferentes intensidades. 1995 é o ano em que o autor conheceu a zona onde a maioria das fotos foram feitas. Seguir-se-ão 2005, ano em que o autor se mudou para Coimbra, e 20151995 propõe, assim, uma viagem aos lugares da sua infância. Dentro do seu estilo habitual, o autor trabalhou à noite, a preto e branco, com flash, à chuva, daí resultando um trabalho esteticamente muito forte feito de altos contrastes. Velhas casas, muros e redes de vedações, gatos em cima dos muros, árvores e vegetação, estruturas desativadas, diversos objetos reaproveitados, marcas de pneus de automóvel no pavimento e sinais de trânsito destacam-se dos fundos escuros pela ação da luz do flash, que ao incidir nas gotas de água da chuva cria também a trama de pontos brancos que domina todo o trabalho. Em suma, estamos na presença de uma série fotográfica que marca o reencontro do autor com lugares da sua infância, por vezes profundamente alterados e agora redescobertos fotograficamente em horas “proibidas” às crianças.


F. J.


Links:

Bruno Silva


Fotografia Jovem Portuguesa