terça-feira, 8 de março de 2016

Francisco Sá Fernandes: This could be anywhere in the world


Francisco Sá Fernandes, Da série This could be anywhere in the world, 2016.


Francisco Sá Fernandes (Porto, 1994) estudou Artes Visuais no ensino secundário, fez um curso profissional de Som e atualmente estuda Som e Imagem na Universidade Católica do Porto. Interessa-se por artes visuais em geral, desde o cinema à fotografia, à escultura e à pintura, mas o seu trabalho centra-se mais na área de fotografia e cinema. Os projetos fotográficos já realizados, e apresentados no seu espaço digital na plataforma Behance, mostram uma atenção particular às novas formas do mundo, particularmente as criadas pela arquitetura e pelas tecnologias digitais, e o comportamento do indivíduo no seu quotidiano. Os volumes construídos, os espaços que eles configuram e os elementos de alta tecnologia que os complementam contribuem tanto para a construção do discurso visual como para a abordagem das problemáticas do sujeito no mundo, particularmente da sua reação ao ambiente em que se insere. A fotografia é objetiva, cruel e coloca as personagens contra superfícies metálicas, ambientes inóspitos, configurações insólitas, longe de qualquer ambição poética.

O projeto This could be anywhere in the world (2016) aborda os efeitos da globalização na arquitetura. Integralmente desenvolvido a preto e branco de alto contraste, mostra as superfícies exteriores e os volumes quer contra fundos negros sem qualquer gradação, quer contra fundos integralmente brancos dos quais apenas se podem distinguir pelas linhas de contorno vincadas a negro ou pelos elementos minimalistas repetidamente usados na construção. É maioritariamente nestes que aparecem os meios-tons, resultado das interpenetrações de luz e sombra ou dos raros reflexos de céu nas superfícies envidraçadas. 

A problemática inerente a este trabalho pode ser melhor entendida com a leitura da descrição do autor, que tanto visa abordar o aspeto polémico da estética da arquitetura contemporânea de tendência minimalista como contribuir para a discussão da identidade da arquitetura e das cidades na era da globalização, particularmente da relações culturais entre o local e o global. 

«Numa altura em que o caminho da sociedade moderna tende a seguir o trilho da globalização, questões podem ser levantadas pela herança cultural que deixaremos para as futuras gerações, nomeadamente na arquitetura.


As novas construções que vou observando, levantaram em mim algumas questões. Na medida em que o caminho que a arquitetura está a seguir pode, na minha perspetiva, pôr em causa a identidade própria do nosso território. Isto porque os novos edifícios tendem a rejeitar a ornamentação e os cânones de construção tradicionais que os tornava característicos e típicos de um determinado local. Em vez disso, parece haver uma busca pelo uniforme. O minimalismo que se faz sentir nos novos edifícios concede um aspeto moderno e futurista às cidades, no entanto acaba por dissolver os traços fundamentais da sua identidade.

Esta série funciona como uma exposição desse tema, não tomando uma posição de crítica direta, apenas levanto a questão para que as pessoas possam tomar a sua posição. Todas as fotografias foram produzidas na cidade do Porto, mas na realidade, e a meu ver, poderiam ter sido tiradas em qualquer parte do Mundo. Isso por si só já fundamenta as minhas dúvidas e questões sobre esta problemática.»


F. J.


Francisco Sá Fernandes








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